domingo, outubro 21, 2007

A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

Adélia Prado

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Cheguei aqui através de um comentário seu no Bicho Esquisito. (Pensando bem, já tinha aparecido aqui antes, ligeiramente.) Achei o seu Perfil muitomuitomutíssimo interessante; ao contrário de você, apesar dos pesares, ainda sou capaz de votar no PT (jamais voltarei no DEMo, por exemplo). Vou ler o seu blogue com calma. Voltarei, claro. Afinal, um carioca-potiguar-seridoense costuma gostar do que é bom e bem feito. Um beijo.